Conversamos com formadores, coordenadores e artistas participantes do projeto Formação de Jovens Circenses – Cooperação Internacional Brasil/França – 2017 realizado pela Secretaria de Cultura de Pernambuco e Fundarpe, em parceria com o Consulado Geral da França no Recife, sediado na Escola Pernambucana de Circo. Confira alguns deles:
DEPOIMENTOS FORMAÇÃO –
Albin Warette – Formador. Professor na Escola de Circo Le Lido (França)
A formação foi ótima porque estão todos, realmente, desejosos de aprender. E por mais que o nível artístico e de exigência artística não seja o mesmo, não temos que usar o nível mínimo porque seria uma armadilha. Temos que sonhar o bom nível e encontrar maneiras de dar ferramentas para que eles possam usar isso depois. Quanto à continuidade do trabalho, penso que o meu trabalho artístico é como um vírus. Espero ter infectado algumas pessoas desta oficina e que elas possam levá-lo a outros. Conheci a Escola Pernambucana de Circo há quatro anos. Para mim, a primeira visão foi muito forte porque na França não temos escolas de circo social. Temos escola de circo e trabalhos que chamamos social, mas nunca tão forte como acontece aqui. Então, foi um choque verificar que tudo o que acontece aqui é possível. O investimento, o fato de antigos alunos terem se tornado professores. Não posso dizer que conheço bem o Brasil, mas do que posso sentir, é mais uma intuição, é que aqui é muito mais melhor do que todos os outros lugares (risos). Aqui, coisas acontecem realmente. Não é só artistas sonhando outro mundo, são pessoas vivendo este mundo, fazendo circo.
José Clementino de Oliveira, Zezo Oliveira – assessor da Coordenadoria de Artes Cênicas da Secretaria de Cultura.
Esta formação faz parte de um processo maior de cooperação internacional Brasil-França. E, para mim, este processo tem sido importantíssimo porque é o primeiro momento em que o governo assume esse olhar de trabalhar com jovens circenses tendo como prioridade atender os de circo itinerante. Isto fortalece principalmente o processo criativo autoral desses jovens onde eles estejam. Trata-se de uma experiência nova, inédita e importante. E temos todas as disposições dos órgãos governamentais para fazer essa ação. A nossa perspectiva de continuidade para além das oficinas, inclusive, é a construção de uma rede de jovens circenses em PE e acho que isso já começou. Sobre a EPC, da qual fui um dos fundadores, sei o quanto tem sido capaz de produzir coisas e interferir no processo de formação dentro de Pernambuco. Um marco no sentido de, inclusive, mudar a cartografia da produção artística em Recife. Afinal, geralmente, ela acontecia no centro da cidade ou ligada a UFPE. Há algum tempo, entretanto, todos os que querem fazer uma formação mais ampliada de circo tem que vir à Zona Norte e isso é importante para movimentar essa forma de pensar a arte no Recife.
Sérgio Luiz Muniz da Silva – Circo Alakazan, Palmares
Para mim, esta união e interação dos artistas circenses que estão aqui é muito importante porque socializamos conhecimentos entre circo tradicional e contemporâneo. Esta experiência que os jovens de circo itinerante passam para mim é algo que me emociona e dá mais ânimo de continuar. Quanto à Escola Pernambucana de Circo, não vejo outro lugar onde esta formação poderia acontecer. É uma instituição que tem se fortalecido cada vez mais e é conhecida por méritos. Onde nós, artistas de circo, temos forte apoio para pesquisar e que une a arte circense de tantas formas e possibilidades. Que une e ainda diz que somos todos iguais.
Juan Mello – Trupe Circus
Antes de entrar na Trupe Circus, eu fazia circo de rua (malabares, bolinha, clave) em várias praças, ruas. Com esta formação, conheci várias pessoas, técnicas, conhecimentos e isto agrega valores para a minha vida, minha arte. Minha perspectiva é, a partir de agora, fazer arte com mais qualidade e técnica, manuseando todos os instrumentos possíveis. O que mais emocionou foi a história das pessoas do circo itinerante, a passagem de ensinamento entre as famílias.
Vandeliane Francisco da Silva – Circo Alves, (Arcoverde) e Circo África do Sul (Bahia)
Entrei no Circo há seis anos, aprendi muito coisas e aqui estou criando experiências que eu não tinha. Estou evoluindo o que aprendi. Já sinto a diferença no picadeiro, na forma de me comportar. Agora me sinto verdadeiramente inserida na arte circense, coisa que não sentia antes. Hoje sinto que tenho carisma, que consigo encarar o público e fazer minhas cenas de forma mais planejada.
Wellingon Ferreira da Silva – Circo Nawellingnton, (Bahia)
Estou há 18 anos em Pernambuco e sou da terceira geração circense. Meu filho, de 12 anos, faz tecido, cama elástica e palhaçaria. Minha filha, de 5, quer ser acrobata. Quero que eles estejam no Circo enquanto eu estiver, embora eu tema que daqui a uns 5 anos não tenhamos mais lugares para armar um circo pequeno. Achei excelente a estrutura da Escola Pernambucana de Circo e a formação boa para todos. Tenho dois espetáculos em cartaz – Cem Anos de Luiz Gonzaga e A Liga da Justiça – e vou montar outro a partir das coisas que aprendi aqui. O mais importante, entretanto, para mim, foi a amizade com as pessoas.
Maria Paula Costa Rego – dançarina Grupo Grial de Dança
Sobre a Formação, acho que a gente precisava mesmo dar um primeiro passo. Está sendo incrível, estou emocionada. Saio daqui mexida durante o dia inteiro, com o que vejo, vivo, aprendo, transmito. O que mais me toca é uma trama, não dá para dissociar um elemento do outro: o esforço de as pessoas virem de outros lugares, de outras periferias distantes de onde a escola fica; os espetáculos e, finalmente, a escolha de vida destas pessoas ser o circo. E é incrível ver as diferenças de mundo, vê-los aqui aprendendo, tentando guardar o que é tradicional e dando passos à frente. Isto tudo é um sonho. Então, estamos construindo esse sonho que está no início e ao qual queremos dar continuidade. Sobre a EPC, esta formação teria que acontecer aqui, não vejo em outro lugar. Afinal, a importância da Escola em relação ao Estado e ao país é muito grande. Uma instituição que foi construída e se construiu com qualidade, apesar de todas as dificuldades. É um verdadeiro ícone de resistência e que sobrevive com qualidade, que faz com que haja avanço nela e no seu entorno.
Nathália de Azevedo Silva – Trupe Circus
Antes da Trupe Circus, minha experiência consistia em treinar malabares sozinha, em casa. A vivência na Trupe tem sido muito boa, com desafios e algo novo todos os dias. Na Oficina, ainda estou me aprimorando em expressão e consciência corporal. Para mim, individualmente, acho que é muito importante até para me expressar melhor, falar em público, dançar. Ao meu dia a dia, me sinto agora menos travada. Aconteceu uma grande mudança em mim enquanto artista e pessoa. Para Recife, é importante ter este contato maior com o circo tradicional. E é interessante ver que eles não tem resistência em mudar. Que sabem que este circo não precisa ser o mesmo de 50 anos. Me emocionou também assistir à apresentação dos outros, pela beleza, pela força e por despertar sentimentos que me impactaram.
Maria Karolaine – Trupe Circus
Participei de muitas formações, enquanto integrante da EPC. A diferença desta em relação a outras é que integrou pessoas vindas de vivências diferentes. Foi ótimo poder ter um aprimoramento individual e coletivo nas próprias modalidades que escolhemos. O que mais emocionou foi o coletivo, estar com eles, fazer acontecer o que conseguimos montar em tão pouco tempo. Todo mundo estará presente e feliz por este momento, se divertindo, brincando. Amizades ficaram, também. E foi muito importante ver o quanto os itinerantes tem a ensinar e apresentar como presença de circo mesmo, de lona. Eles conseguem mostrar essa garra, esta energia sempre para cima. Para a minha rotina, levarei este ensinamento. De que independentemente de como ou quem eu esteja, vou fazer sempre o meu melhor. Que o público quer de nós, de Circo, o diferente e que tenho que estar cada vez mais preparada para este público.
Amanda Roma – artista atuante na França (5 anos de formação na Europa – Itália e França)
Nunca tinha vindo à Escola Pernambucana de Circo. Para mim, foi uma surpresa bem agradável ver que se trata de uma estrutura de circo um pouco mais formal, com segurança. Isso é super bom e importante porque, querendo ou não, a formalização do circo garante um reconhecimento maior, e faz sair desse lugar um tanto marginal. O que me levou ao circo foi fazer uma coisa que me parecia muito impossível no meu caráter, personalidade, gostos , depois, trabalhar na cena, que pra mim é um lugar de autodescoberta, de buscar dentro de mim mesma lugares e momentos que são difíceis na “vida real”. Nunca tive contato com circo itinerante, foi a primeira vez e estou achando muito legal. As pessoas denominam o Circo tradicional como antigo, mas para mim o importante é a descoberta de como ele é atualmente. Feito por pessoas que estão aqui para fazer isso, que amam isso, que vivem disso. Achei super mágica essa diversidade e confesso que abriu um leque de conhecimentos para mim.